
11.11.1887 (Salvador, Bahia)
“The wind is blowing
in the right direction1″


Figuras 1 e 2. Alexander Wilson e Jean Gray.
Edward Pellew Wilson nasceu com visão privilegiada e aguçado tino comercial. Esteve envolvido com atividades de navegação, incluindo importação (com foco em carvão) e exportação. Também investiu na construção de ferrovias, em bancos, indústrias e prospecção mineral. Exerceu importante papel no conjunto de mudanças que permitiram a modernização do Brasil.
ORIGENS E FAMÍLIA. Edward Pellew Wilson, nasceu em Portsoy, Escócia., no dia 23 de agosto de 1803, primeiro filho de Alexander Wilson (1774-1817), primeiro tenente da Royal Marine (1798), e de Jean Gray (1780-1847). Fez seus estudos de navegação no Edinburgh College, junto com seu primo-irmão Sir James Wilson Milne (1812-1880), premier, secretário colonial e presidente do Conselho Legislativo da Tasmânia. Seu nome, Edward, e o sobrenome Pellew (do normando pel + loup, ou “pele de lobo”), rendem homenagem ao almirante Sir Edward Pellew (1757-1832), de quem Alexander Wilson foi amigo e secretário, a ponto de o almirante tomá-lo como afilhado.
Sobre a origem da família Wilson, é possível destacar um perfil social definido, provindo de uma landed-gentIy, ou uma burguesia consolidada, pontuada pelo sangue azul, e cuja atividade econômica praticada até o início do século XX é confirmada, documentalmente, ainda no século XVIII. Suas atividades estavam profundamente envolvidas com o mar, algo tipicamente britânico e luso-brasileiro, também.
ABERTURA DOS PORTOS E OS NEGÓCIOS INGLESES. A expansão da França de Napoleão Bonaparte pela Europa envolveu a tentativa do controle do poderio inglês por meio do Bloqueio Continental, que determinava a proibição da comercialização de qualquer país europeu com a Inglaterra. Em função da negativa portuguesa de aderir ao bloqueio, o imperador francês ordenou o envio de tropas para invadir Portugal.
O então príncipe regente português, D. João, para evitar ser transformado em prisioneiro francês, decidiu fugir de Portugal e mudar-se para o Brasil entre 1807 e 1808. A transferência da família real foi feita com ajuda da Inglaterra, tradicional aliada, que garantiu a escolta dos portugueses, com a expectativa de recompensas futuras.
Os ingleses também se comprometeram a reconhecer que a família Bragança seria a única a ser reconhecida como soberana de Portugal. Em troca, os portugueses hipotecaram a Ilha da Madeira, até que as dívidas com os ingleses fossem sanadas, e garantiram o acesso às terras controladas por Portugal para entrada das mercadorias inglesas.
No Brasil, a abertura dos portos se deu por meio de um decreto real publicado no dia 28 de janeiro de 1808 que colocou fim no pacto colonial, permitindo o ingresso de mercadorias oriundas das nações que fossem amigas de Portugal. Seria a primeira transformação causada pela vinda da família real para o Brasil e uma decisão óbvia, já que atenderia às necessidades de modernização do Brasil – agora que a família real se instalaria no Rio de Janeiro –, cumpriria o acordo assinado com os ingleses, além de reforçar os cofres portugueses, bastante vazios em função da mudança da Corte. Sua ideia teria partido de José da Silva Lisboa, também conhecido como Visconde de Cairu, um dos homens mais próximos de D. João.
A abertura marcou o fim do pacto colonial, que determinava que a colônia só poderia comprar e vender diretamente para Portugal. D. João VI autorizou a abertura dos portos brasileiros para todos os navios estrangeiros que estavam em paz e harmonia com a Coroa portuguesa. Mercadorias trazidas ao Brasil por embarcações estrangeiras sofreriam taxas alfandegárias que seriam de 24% para as mercadorias secas e 48% para mercadorias como vinhos e aguardentes. A taxa era uma forma de proteger as mercadorias produzidas no Brasil. Com isso, comerciantes ingleses começaram a inundar o país com suas mercadorias.
O Brasil era um mercado importante para os ingleses, que, mesmo pagando 24% de taxas alfandegárias, tornaram-se os comerciantes mais influentes no porto do Rio de Janeiro, por exemplo. Em 1808, 113 negociantes de Londres decidiram instalar filiais no Brasil, fundando então a Association of English Mechant Trading to Brazil. Em agosto desse mesmo ano já existiriam no Rio de Janeiro de 150 a 200 comerciantes ingleses. Quinze anos mais tarde, o comércio entre Brasil e Inglaterra estaria efetivamente estabelecido.

Figura 3. A chegada de Dom João VI à Bahia por Cândido Portinari (1903-1962).
Posteriormente, o Tratado de Navegação e Comércio de 1810, estimulou os negócios ingleses, que passaram a recolher apenas 15% de imposto alfandegário, valor menor que os 16% recolhidos pelos portugueses. A influência dos ingleses na Coroa portuguesa era cada vez maior e a dependência de Portugal em relação à Inglaterra fez com que os portugueses negociassem condições favoráveis demais para os ingleses. Os portugueses dependiam dos ingleses para garantir a segurança de suas colônias, bem como para recuperar seu território na Europa Continental.
Grandes foram a influência britânica e sua contribuição para o desenvolvimento brasileiro. Ao falar ou pensar em máquina, motor, ferramenta, estrada de ferro, rebocador, draga, cabo submarino, telégrafo, artigos de ferro e aço, brinquedo mecânico, cadeira de mola, cadeira doméstica, bicicleta, patim, aparelho sanitário, navio de guerra, vapor, lancha, fogão a gás ou a carvão, os brasileiros lembravam imediatamente dos ingleses. Os ingleses estariam ligados ao início da modernização das condições materiais de vida do brasileiro, o que envolveria produção, habitação, transporte, recreação, comunicação, iluminação, alimentação e repouso. Também desempenhariam papel nas “guerras” contra a rotina, a ignorância e a doença e no apoio à substituição do trabalho escravizado pelo liberto, da monocultura pela diversificação e do transporte humano e animal pelo mecanizado.
CHEGADA A SALVADOR. Os incentivos aos negócios ingleses no Brasil motivaram a vinda de Edward Pellew Wilson, então um jovem armador escocês com 16 anos, para a Bahia em 1819. Seu irmão caçula, Fleetwood Wilson, permaneceria nos negócios familiares na Escócia.

Figura 4. Registros da abdicação de D. Pedro I.
Edward, ao chegar, se instala no porto, cercado pelos trapiches e entrepostos voltados ao comércio ultramarino. Suas atividades envolviam serviços relacionados à navegação e ao comércio de carvão. Promovendo agenciamento para terceiros, importa carvão e manufaturas. Exporta para a Europa e Estados Unidos, sal, sisal, madeira e piaçava. Os tempos eram árduos e Edward dedicou-se com firmeza ao trabalho.
No início da década de 1830, casou-se com Maria Constança da Silva Freire, herdeira de abastada família de negociantes portugueses que viera da cidade do Porto, Portugal, no século XVIII. O casal teve dez filhos.
Em 7 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou, iniciando período de turbulências que duraria quase toda uma década. No ano de 1834, Edward aproveitou as oportunidades de negócios e participou da fundação da Casa Comercial de Hett-Wilson em sociedade com o conterrâneo Edmund Sykes Hett. Seria o início de sua importante escalada no mundo dos negócios. Estabeleceu acordo com a família Daves do País de Gales que perduraria por quase um século, permitindo a importação para a Bahia de montanhas de carvão de alta qualidade das South Wales Coalings.
No ano de 1837, Edward desligou-se da sociedade com Hett. Juntamente com Fleetwood, fundam a Wilson Sons & Company, inicialmente como firma importadora e de abastecimento de carvão, com Fleetwood assumindo a outra ponta da operação em Londres. Nesse mesmo ano, a Sabinada –revolta autonomista de caráter separatista transitório, ocorrida na Bahia entre 6 de novembro de 1837 e 16 de março de 1838, liderada pelo médico e jornalista Francisco Sabino e o advogado João Carneiro da Silva – ampliou os desafios dos negócios. Na verdade, a Bahia já vinha sendo cenário de várias revoltas urbanas que evidenciavam os desgastes das estruturas coloniais portuguesas, intensificadas com a abdicação,2 como a Federação do Guanais (1832) e a Revolta dos Malês (1835). Edward foi ferrenho monarquista até o final dos seus dias, não manifestando simpatia pelas revoltas.
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