Gestões Inspiradoras da Bahia
Emil Wildberger

Emil Wildberger

16.01.1946

(Salvador, Bahia)

“Seu empreendedorismo foi fundamental para o desenvolvimento da lavoura cacaueira na Bahia”

Figura 1. Reis da cultura mixteca compartilhando bebida à base de cacau.

Emil Wildberger aportou na Bahia em 1892. Aproveitou a crise da economia mundial dos anos 1930 e comprou várias empresas exportadoras e fazendas falidas de cacau, constituindo importante parceria com a casa Rothschild francesa. Com isso, sua firma Wildberger se tornou líder no mercado cacaueiro, muito contribuindo para o desenvolvimento da região.

AS ORIGENS. Emil Wildberger nasceu em Neunkirch, no cantão de Schaffhausen, Suíça, no dia 9 de dezembro de 1871, filho de Albert Wildberger e Johanna Schaerrer. É possível que a origem da família esteja na pequena vila ou aldeia alemã de Wildberg, na região administrativa de Karlsruhe, estado de Baden-Württemberg, próximo à Floresta Negra. Dali, teriam partido para a Suíça, possivelmente em busca de um local mais seguro para viver, dado que a região de origem vivenciou encarniçadas guerras religiosas ao longo dos séculos XVI, XVII e parte do XVIII.

Ainda estudante, Emil trabalhou no Banco Cantonal de Schaffhausen, indo trabalhar em Paris ainda na condição de estudante estagiário. Atuou em um banco e em casas exportadoras e importadoras.

O CACAU E SUA PRESENÇA NA BAHIA. A literatura botânica apresenta o cacau pela primeira vez no início do século XVII como Cacao fructus por Charles de L’ecluse. Em 1737, foi introduzido o binômio Theobroma cacao, com a primeira palavra significando  alimento dos deuses e sendo inspirada na crença mesoamericana da origem divina do cacaueiro. O termo “cacau” derivaria da palavra cacahualt (idioma nahuatl) falada pela civilização maia.

Os povos maia e asteca cozinhavam o cacau e trituravam-no com milho e pimenta aromatizando o preparo com baunilha e canela. À bebida davam o nome de xocatl. Além de servir como base para a bebida, que deveria ser ingerida ritualisticamente, as amêndoas de cacau circulavam como moeda.

No século XVI, com uma centena de amêndoas de cacau seria possível comprar um bom escravo. Seria um “abençoado dinheiro, que fornece uma doce bebida e é benéfico para a humanidade, protegendo os seus possuidores contra a infernal peste da cobiça, pois não pode ser acumulado muito tempo nem escondido nos subterrâneos”.

O contato inicial dos europeus com o cacau teria sido em 1502, quando um dos navios da quarta expedição de Colombo às Américas encontrou na costa norte da atual Honduras uma canoa nativa contendo amêndoas de cacau para comércio.

O chocolate teria sido levado para a Europa pelos espanhóis, em torno do século XVII. O pó de cacau misturado em água quente resultava numa bebida energética amarga, consumida com açúcar. No século XIX, os suíços evoluíram a produção e o consumo,  misturando ao pó do cacau leite e açúcar, além de espessantes e outros possíveis ingredientes, como amêndoas e nozes. O produto resultante foi chamado de chocolate, com referência ao leite usado no produto por meio do sufixo late, reescrito do italiano latte. Tornou-se sucesso na Europa, com o consumo crescendo enormemente, sobretudo nos países onde a Revolução Industrial teria provocado uma situação de melhoria de renda generalizada, como Inglaterra, França e Alemanha. A fabricação do chocolate, inicialmente feita por empresas chocolateiras suíças, ao longo do século XIX expandiu-se para outros países europeus consumidores de chocolate, notadamente Bélgica, Alemanha e França.

A expansão provocou a necessidade de maior suprimento de cacau, o que exigia melhor organização da produção e do comércio exportador de amêndoas de cacau nas regiões produtoras que, no século XIX, correspondiam às regiões de origem do cacau, nas Américas do Sul e Central. Os vales do Orinoco e do Amazonas foram os primeiros fornecedores de cacau para as empresas chocolateiras da Europa.

A Venezuela foi um dos primeiros países a introduzir o cultivo do cacaueiro. Contudo, no final do século XIX, a disseminação da praga conhecida como vassoura de bruxa na região amazônica trouxe um baque para a produção de cacau na região, afetando substancialmente a Venezuela, até então um grande produtor.

Situada fora da região amazônica, a Bahia passou a despontar como provável substituta no fornecimento de cacau, atraindo atenções de negociantes europeus. Possivelmente, a referência mais antiga sobre o cultivo de cacau na Bahia dataria de 1655, quando o vice-rei D. Vasco de Mascarenhas se declarou, em carta enviada ao capitão-mor do Grão Pará, “afeiçoado ao chocolate”, e julgou útil ao Brasil a intensificação do seu plantio, principalmente na Bahia, pelo clima semelhante ao amazônico. Contudo, não é possível confirmar se o pedido fora atendido. Registros históricos dão conta de que as experiências com o plantio de cacau em terras baianas teriam iniciado a partir de 1746, quando o franco-suíço Louis Frederic Warneaux que vivia no Pará entregou ao fazendeiro baiano Antônio Dias Ribeiro as primeiras sementes de cacau, providencialmente plantadas na fazenda Cubículo, às margens do Rio Pardo, no município de Canavieiras. Em 1752, foram feitos plantios no Município de Ilhéus. A partir da década de 1770, a coroa portuguesa passou a incentivar o plantio de novas lavouras de exportação para diminuir a dependência do comércio do açúcar. Lavouras alternativas como café, cacau e algodão foram plantadas.

Figura 2. Colheita de Cacau

A FIRMA WILDBERGER. ano de 1903 testemunhou a exportação, pela Bahia, de 246.793 sacos de cacau, sendo 123.200 de Ilhéus e 102.195 de Canavieiras. Os dados evidenciam uma boa resposta dos estímulos promovidos pelos exportadores.

Carlos Ferdinand Keller, satisfeitíssimo com os crescidos lucros, resolveu se instalar definitivamente em Paris, como importador de mercadorias tropicais, transferindo para seus dois principais funcionários as ações da firma. Uma nova empresa foi constituída, tendo os suíços Hermann
Braem e Emil Wildberger como seus sócios majoritários e Keller mantido como sócio minoritário, de forma a facilitar a compreensão pelos clientes do interior de que a empresa Braem, Wildberger & Cia. seria a legítima sucessora da C. F. Keller & Cia. Pouco tempo depois, na passagem do ano
novo de 1904, Hermann Braem faleceu na Suíça. A nova firma passaria a operar sob o nome de Wildberger & Cia. Capturar a percepção de ser sucessora da C. F. Keller seria fundamental, já que o volume de recursos emprestados a produtores era significativo, bem como o risco de calote,
que estaria diluído em função do aumento dos volumes de operações.

Na década de 1940, o Estado planejou e executou melhorias na infraestrutura social da região cacaueira, implementando escolas, hospitais e estradas. O ICB, no contexto da gestão do governo Vargas e do interventor na Bahia, general Pedro Aleixo, fez circular estudo recomendando maior controle estatal do comércio exterior brasileiro, o que incluía o mercado do cacau. Exportadores estrangeiros, como Emil Wildberger, passaram a ser hostilizados. Em 1942, o Brasil entrou na guerra contra os países do Eixo. Em 1943, foi determinada a entrega compulsória de todo o cacau produzido na Bahia para o ICB. Pinto Aleixo chegou a mandar prender alguns exportadores estrangeiros, incluindo Wildberger (então viúvo com mais de 70 anos), sob a alegação de suspeita de atividades antibrasileiras. Contra este, foram levantadas provas relacionadas a cartas e documentos escritos em alemão. Como os documentos faziam referência, apenas, a transações de cacau e café feitas com clientes europeus, Emil foi solto por falta de provas.

Figura 3. Prédio do Instituto de Cacau da Bahia.

As firmas exportadoras ficaram impedidas de atuar até o final da guerra e deposição de Getúlio. Nesse período, Wildberger buscou expandir sua presença no mercado interno, incluindo a representação de equipamentos industriais e automóveis (como os Studebaker), fruto de contatos nos
Estados Unidos. Também a representar companhias de navegação deste país. Também comprou terreno no bairro do Comércio em Salvador, em área recém-aterrada para a expansão do porto, iniciando a construção de prédio comercial para onde seriam transferidos os escritórios da empresa,
o que não conseguiu testemunhar, falecendo antes da conclusão das obras.

Com o final da guerra, a concorrência do comércio exportador volta a sua normalidade, com muitos produtores saudando o regresso das firmas exportadoras, com melhorias nos preços do cacau em função da maior competividade na compra.

Emil Wildberger faleceu em janeiro de 1946, entregando a condução das operações aos filhos e dois diretores suíços. A firma se manteve atuante no mercado durante os anos 1950. Contudo, no começo dos anos 1960, ocorreu uma cisão na empresa, com encolhimento das suas operações. A produção foi gradualmente encolhendo em volume e importância, até que por volta de 1964 perdeu quase que totalmente a participação no mercado exportador.

Figura 4. Emil Wildberger (mais alto em pé) em Salinas da Margarida por volta de 1905.

UM HOMEM DE FAMÍLIA. Emil Wildberger também foi um homem de família. No ano de 1897, cinco anos depois de sua chegada ao Brasil, Emil e seu compatriota e companheiro de viagem, Karl Neeser, se casariam, respectivamente, com Adélia e Adelaide, filhas do comerciante Horácio Urpia Júnior, que entre seus negócios, possuía as Salinas da Margarida.

Por volta de 1905, a Salinas da Margarida já era a maior produtora de sal da Bahia. O local em se instalara também servia para veraneio dos seus acionistas majoritários.

O casamento de Emil Wildberger e Adélia Urpia ocorreu em 15 mai. 1897, com recepção na casa da Graça, pertencente e residência de Horácio Urpia na Av. Euclides da Cunha. Chalé vizinho, também de sua propriedade, fora alugado a Emil Wildberger e sua esposa após o casamento.

Emil e Adélia tiveram sete filhos: Elsa (1898), Arnold (1900), Frieda (1903), Margarida (1907), Adolpho (1911), Carlos (1913), Carmem (1919).

Emil Wildberger aportou na Bahia em 1892. Aproveitou a crise da economia mundial dos anos 1930 e comprou várias empresas exportadoras e fazendas falidas de cacau, constituindo importante parceria com a casa Rothschild francesa. Com isso, sua firma Wildberger se tornou líder no mercado cacaueiro, muito contribuindo para o desenvolvimento da região.

AS ORIGENS. Emil Wildberger nasceu em Neunkirch, no cantão de Schaffhausen, Suíça, no dia 9 de dezembro de 1871, filho de Albert Wildberger e Johanna Schaerrer. É possível que a origem da família esteja na pequena vila ou aldeia alemã de Wildberg, na região administrativa de Karlsruhe, estado de Baden-Württemberg, próximo à Floresta Negra. Dali, teriam partido para a Suíça, possivelmente em busca de um local mais seguro para viver, dado que a região de origem vivenciou encarniçadas guerras religiosas ao longo dos séculos XVI, XVII e parte do XVIII.

Ainda estudante, Emil trabalhou no Banco Cantonal de Schaffhausen, indo trabalhar em Paris ainda na condição de estudante estagiário. Atuou em um banco e em casas exportadoras e importadoras.

O CACAU E SUA PRESENÇA NA BAHIA. A literatura botânica apresenta o cacau pela primeira vez no início do século XVII como Cacao fructus por Charles de L’ecluse. Em 1737, foi introduzido o binômio Theobroma cacao, com a primeira palavra significando  alimento dos deuses e sendo inspirada na crença mesoamericana da origem divina do cacaueiro. O termo “cacau” derivaria da palavra cacahualt (idioma nahuatl) falada pela civilização maia.

Os povos maia e asteca cozinhavam o cacau e trituravam-no com milho e pimenta aromatizando o preparo com baunilha e canela. À bebida davam o nome de xocatl. Além de servir como base para a bebida, que deveria ser ingerida ritualisticamente, as amêndoas de cacau circulavam como moeda.

No século XVI, com uma centena de amêndoas de cacau seria possível comprar um bom escravo. Seria um “abençoado dinheiro, que fornece uma doce bebida e é benéfico para a humanidade, protegendo os seus possuidores contra a infernal peste da cobiça, pois não pode ser acumulado muito tempo nem escondido nos subterrâneos”.

O contato inicial dos europeus com o cacau teria sido em 1502, quando um dos navios da quarta expedição de Colombo às Américas encontrou na costa norte da atual Honduras uma canoa nativa contendo amêndoas de cacau para comércio.

O chocolate teria sido levado para a Europa pelos espanhóis, em torno do século XVII. O pó de cacau misturado em água quente resultava numa bebida energética amarga, consumida com açúcar. No século XIX, os suíços evoluíram a produção e o consumo,  misturando ao pó do cacau leite e açúcar, além de espessantes e outros possíveis ingredientes, como amêndoas e nozes. O produto resultante foi chamado de chocolate, com referência ao leite usado no produto por meio do sufixo late, reescrito do italiano latte. Tornou-se sucesso na Europa, com o consumo crescendo enormemente, sobretudo nos países onde a Revolução Industrial teria provocado uma situação de melhoria de renda generalizada, como Inglaterra, França e Alemanha. A fabricação do chocolate, inicialmente feita por empresas chocolateiras suíças, ao longo do século XIX expandiu-se para outros países europeus consumidores de chocolate, notadamente Bélgica, Alemanha e França.

A expansão provocou a necessidade de maior suprimento de cacau, o que exigia melhor organização da produção e do comércio exportador de amêndoas de cacau nas regiões produtoras que, no século XIX, correspondiam às regiões de origem do cacau, nas Américas do Sul e Central. Os vales do Orinoco e do Amazonas foram os primeiros fornecedores de cacau para as empresas chocolateiras da Europa.

A Venezuela foi um dos primeiros países a introduzir o cultivo do cacaueiro. Contudo, no final do século XIX, a disseminação da praga conhecida como vassoura de bruxa na região amazônica trouxe um baque para a produção de cacau na região, afetando substancialmente a Venezuela, até então um grande produtor.

Situada fora da região amazônica, a Bahia passou a despontar como provável substituta no fornecimento de cacau, atraindo atenções de negociantes europeus. Possivelmente, a referência mais antiga sobre o cultivo de cacau na Bahia dataria de 1655, quando o vice-rei D. Vasco de Mascarenhas se declarou, em carta enviada ao capitão-mor do Grão Pará, “afeiçoado ao chocolate”, e julgou útil ao Brasil a intensificação do seu plantio, principalmente na Bahia, pelo clima semelhante ao amazônico. Contudo, não é possível confirmar se o pedido fora atendido. Registros históricos dão conta de que as experiências com o plantio de cacau em terras baianas teriam iniciado a partir de 1746, quando o franco-suíço Louis Frederic Warneaux que vivia no Pará entregou ao fazendeiro baiano Antônio Dias Ribeiro as primeiras sementes de cacau, providencialmente plantadas na fazenda Cubículo, às margens do Rio Pardo, no município de Canavieiras. Em 1752, foram feitos plantios no Município de Ilhéus. A partir da década de 1770, a coroa portuguesa passou a incentivar o plantio de novas lavouras de exportação para diminuir a dependência do comércio do açúcar. Lavouras alternativas como café, cacau e algodão foram plantadas.

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