16.02.1924 (Salvador, Bahia)
“Foi honra e glória do comércio baiano.”
Figura 1. Visão de Salvador em 1912, com o Cais do Ouro.
Amado Bahia foi um dos maiores empreendedores na Bahia. Aproveitou as oportunidades surgidas e criou outras por meio da sua vontade, do seu esforço e do seu discernimento. Venceu pelo trabalho e pela caridade.
ORIGENS. Francisco Amado da Silva Bahia nasceu em Itapagipe, no dia 13 de setembro de 1855. Seus pais, Bernardino da Silva Bahia e Francisca Alves de Menezes, homenagearam no seu nome, São Francisco Xavier, padroeiro da cidade, e com protetora imagem situada em frente à casa dos seus pais.
No ano em que nasceu, Salvador enfrentava uma forte epidemia de cólera. Nesse contexto, a religiosidade permitiu que o busto de prata de São Francisco Xavier, cultuado na Catedral, saísse pelas mais diversas ruas da cidade, visitando as casas com o objetivo de afastar a peste, o que inclui honrosa passagem pela morada da família, com pedidos ao santo, que, por três vezes, sempre enfatizavam: “São Francisco bem amado, rogai por nós”. O pai fez uma dupla homenagem ao santo registrando, no filho, os nomes “Francisco” e “Amado”.
A origem humilde dos pais traria maiores dificuldades para criá-lo. Assim, o jovem Francisco foi criado por seus padrinhos, o Major Francisco Eusébio Soares e Filismina Soares, que o criaram com maiores condições, já que o padrinho era um dos homens mais ricos de Itapagipe, gozando de grande prestígio, não só pela influência social que exercia, mas, também, pelo fato de ser possuidor de terras.
Aos dez anos, foi levado ao colégio, uma das mais conceituadas escolas da época, onde receberia, com os rigores exigido pelo Major, ensinamentos mais avançados em relação aos que havia aprendido em casa, junto com as lições do primeiro livro de leitura. Contudo, desde cedo, Amado Bahia preferia o comércio em relação aos estudos.
Com 14 anos, estava clara a ausência de amizade entre Amado Bahia e os livros. Adicionalmente, também era evidente o seu entusiasmo pelo ambiente de negócio que imperava na vivenda de seu padrinho. Buscava estar sempre em contato com o gado no curral ou com os cavalos. Também
gostava de visitar as plantações, dedicando especial atenção ao trato que lhes era dispensados pelos escravos a quem, eventualmente, ajudava, procurando sempre entrar no segredo dos grandes negócios de seu padrinho a despeito das constantes reclamações deste último.
Sua madrinha tentava aconselhá-lo, contornando os desafios. Sem que o padrinho soubesse, passou a fazer algumas plantações e a vender seus frutos pelo portão ao lado que constituía a válvula de escape para ele sair e vender frutas, legumes e, por fim, leite de cabra. Gostava de negociar. Queria fazer, do verbo, carne, colocando em prática os seus mais variados planos juvenis, ávidos por galgar um degrau a mais no mundo dos negócios.
Filismina o ajudava, tomando as moedas para guardar e tentando, com carinho, mantê-lo focado nos estudos, pois, seu padrinho, uma certa feita, afirmara que um dia Amado Bahia seria um grande doutor. Nas frequentes idas à casa dos pais, que se situava próximo, obteve uma intervenção salvadora de sua mãe, que interveio junto ao major Soares para que fosse dado a seu primogênito um negócio qualquer, de vez que seu pendor era para comerciar. Talvez, não adiantasse persistir contrariado nos estudos.
Segundo suas próprias palavras, não estaria ambicionando o sucesso pelo simples prazer, e sim, pelo desejo de vir a possuir o que bastasse ao amparo dos seus e aos menos aquinhoados da sorte. A marca da sua benevolência se fez presente desde o início. O major, contrariado pelo dilema imposto, foi gradualmente se convencendo do tino comercial do afilhado. Passou a proporcionar-lhe algumas das suas melhores vacas, a título de incentivo. Amado Bahia poderia negociar a sua produção. Assim, em pouco tempo, a vizinhança era abastecida de leite pelo novo negociante. Sua gestão buscava o máximo de rendimento. Mesmo, quando adoecia um de seus empregados, ele próprio tirava o leite e entregava para a freguesia. Seu interesse pelo trabalho era claro, bem como sua simplicidade e seu desprendimento. Seu amor ao próximo também era marcante, destinando parte do dinheiro que ganhava ao amparo dos seus, principalmente de seus pais.
Novos desafios surgiram com a crise financeira vivida por seu padrinho e pai de criação o que ameaçava o seu forte desejo de possuir um negócio mais amplo. Como obter capital para um grande negócio, se aquele que nunca lhe faltara, já agora, infelizmente, não mais poderia ajudar? A
solução estaria nos próprios recursos, no seu amor ao trabalho e na sua capacidade de construir o futuro.
O EMPRESÁRIO. No ano de 1872, o primo Alfredo Ricardo da Silva Bahia chegou de Cachoeira trazendo 500 mil réis de suas economias. Como ele e Amado Bahia eram muito amigos, este último propôs sociedade para o comércio de carnes verdes. O primo entraria com o capital e Amado Bahia, então com 19 anos, com o trabalho.
Figura 2. Cais do Ouro e Mercado do Ouro.
LEGADOS E REGISTROS. A presença de Amado Bahia está registrada em diferentes locais. Em Salvador, existem recordações suas na Igreja do Bonfim, no Mercado do Ouro e no casarão que leva o seu nome, o Solar Amado Bahia. Em Mata de São João, praça e distrito o homenageiam.
Igreja do Bonfim: a Igreja do Bonfim é um dos mais importantes símbolos da fé dos católicos baianos. A comemoração da passagem do primeiro centenário da Independência da Bahia, em 1923, incluiu no programa das solenidades a sagração da Igreja do Senhor do Bonfim. O ato litúrgico exigiu a implantação de cruzes nas paredes do templo, que foram oferecidas por Amado Bahia, devoto fervoroso do Senhor do Bonfim e que por 17 anos seguidos foi seu Juiz da Devoção, tendo sido abençoadas por Dom Miguel de Lima Valverde em 24 de junho de 1923. As 12 cruzes de mármore branco representam os 12 apóstolos.
Figura 3. Mercado do Ouro visto da Praça Marechal Deodoro.
Mercado do Ouro: foi construído pela Companhia Edificadora do Pilar, em uma área aterrada do Porto de Salvador, no século XIX, junto ao antigo Cais do Dourado (substituído pelo Cais do Ouro), em uma época em que o mar chegava ao fundo do mercado. Era destinado principalmente aos
muitos comerciantes ambulantes que vendiam seus produtos na área.
Em 1º de setembro de 1874, o comerciante português Manoel Francisco de Almeida Brandão e seus sócios constituíram uma sociedade para a construção de uma praça de mercado no local. O prédio do Mercado, de notável mérito arquitetônico, começou a ser construído em setembro de 1875 e foi inaugurado em 1879. Possuía amplos armazéns e escritórios comerciais, com um total de 75 metros de frente e 100 m de comprimento. No centro da praça interna, existia um chafariz de mármore. Nos domingos, a área em torno do mercado era palco de samba de roda e capoeira.
Figura 4 e 5. Efeitos do aterramento e criação da Avenida Jiquitaia.
Não demorou muito, para que em sua ascensão comprasse o Mercado do Ouro, em 1910, em hasta pública, pelo valor de quinhentos contos. Após as transformações operadas, ele trouxe para mais perto seu Escritório. Lá vários comerciantes a instalaram seus negócios por preços reduzidos e ainda, facilitando a passagem pelo mar de certas mercadorias, uma vez que as águas cobriam a atual avenida Frederico Pontes, como também as grades do Mercado.Por volta de 1914, o cais do mercado foi aterrado devido às obras de ampliação do Porto. O mercado perdeu grande movimento, incluindo o uso e a geração de rendas oriundas do guindaste, o que levou Amado Bahia a mover, contra a Fazenda Nacional, um processo por lucros cessantes. Por volta de 1940, parte da frente foi demolida para a passagem da Avenida Jiquitaia e uma nova fachada foi construída. Incêndios destruíram parte da estrutura interna. Parte das estruturas laterais e alguns portões de ferro sobreviveram.
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