Gestões Inspiradoras da Bahia
Octávio Ariani Machado

Octávio Ariani Machado

18.12.1886 (Salvador, Bahia)
01.01.1962 (Salvador, Bahia)

“Na fazenda que eu nasci Vovô era retireiro Em criança eu aprendi Prender o gado leiteiro.”

Figura 1. Manoel de Souza Machado.

A família Machado tem uma importância extraordinária para a criação do gado nelore em nosso país. No entanto, nenhum outro membro da família exerceu o trabalho de selecionar reprodutores e lotes de vaca como Octávio Ariani, tornando-se referência para a pecuária nacional.

O PRECURSOR. Encomendados por senhores de engenho, os primeiros bovinos a chegar ao país desembarcaram por volta de 1534 e foram empregados nas fazendas de açúcar do Brasil Colônia como bestas de carga e força motriz, além de fonte de comida e couro. Na Bahia, a atividade de pecuária de corte nasceu também dessa associação entre as usinas de açúcar e a demanda por tração animal.

Desde então, a pecuária se tornou um dos setores mais rentáveis da economia brasileira, movimentando, atualmente, mais de R$ 400 bilhões e representando mais de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Um marco para a pecuária de corte baiana foi a chegada da família Machado à Bahia, em 1858, quando Manoel de Souza Machado, com apenas 12 anos, veio procurar emprego em Salvador, deixando para trás a sua Penedo, no estado de Alagoas. Após alguns anos, tornou-se agricultor com a  aquisição junto ao Banco da Bahia da fazenda Capimirim, localizada no Recôncavo Baiano. Explorou exclusivamente o cultivo da cana-de-açúcar, vendendo toda a produção aos proprietários das usinas de açúcar. Posteriormente, Manoel Machado construiu sua própria usina, para moer a sua produção de canas.

Nas usinas de açúcar do Recôncavo, como a Capimirim, o gado era muito utilizado nas atividades de tração, no cultivo da terra e no transporte de cargas. O gado taurino, de origem europeia, de regiões de clima mais frio, não era eficaz nessas atividades, sendo pouco resistente em nosso clima quente e muito úmido no inverno, com solos tipo “massapê” que se tornam lamacentos, dificultando em muito as atividades de tração.

Para melhorar a tração animal, Manoel Machado, já comendador, encomendou ao seu amigo Miguel Calmon du Pin e Almeida, então ministro da Agricultura do país, que viajaria à Índia, a importação de um casal dos melhores zebus. A expectativa era a de melhor adaptação dos zebuínos, vindos de uma região onde o clima era mais parecido, mais quente e mais úmido.

O ministro trouxe cinco casais de Nelore. Os casais custaram 250 rúpias cada, com a exceção do casal de Manoel Machado que, por ser muito especial, custou 900 rúpias e foi recebido com certificado oficial de técnico de colégio de veterinária de Madras (na Índia). A vaca recebeu o nome de Araci e o touro de Cacique. A vaca veio prenha de outro touro, daí nascendo uma fêmea, que recebeu o nome de Itabira, a primeira bezerra Nelore pura a nascer na Bahia. O casal deu origem aos touros Capimirim e Arary.

Manoel Machado manteve por um tempo o acasalamento apenas entre os Nelores, conservando puro o núcleo inicial e, para aproveitar melhor o touro importado, cruzou-os com algumas vacas crioulas.

Figura 2. Texto do Jornal dos Agricultores de 1907 registrando a chegada dos zebus puro-sangue na BahiaDaniel.

Apesar do pioneirismo do ato de Manoel na criação de gado na Bahia, a importância da família Machado para a pecuária de corte baiana é determinada pelas atividades de Octávio Ariani Machado, fruto do casamento de Manoel Machado com a sua segunda esposa, D. Isabel Ariani.

O MAGISTRADO CRIADOR DE ZEBU. Octávio Machado nasceu e foi criado em Salvador, ingressando muito cedo na Faculdade de Direito. Aos 21 anos, já era formado e chegou rapidamente ao cargo de juiz preparador na Vila de São Francisco do Conde, no Recôncavo Baiano, nas proximidades da Usina Capimirim, propriedade da sua família.

A usina tinha importância central nos negócios familiares e Octávio logo foi requisitado a juntar-se ao irmão Fernando Machado no apoio às atividades que o pai desenvolvia. Com a morte do pai, em 1913, Octávio recebeu como herança o gado leiteiro, tendo ficado para o irmão Fernando o gado Nelore, descendente dos trazidos da Índia pelo ministro Miguel Calmon. No entanto, o entusiasmo de Octávio Machado era dirigido aos zebus e não tardou que iniciasse o seu plantel.

Os irmãos Machado proprietários da Usina Capimirim se aproximaram da família Villas-Bôas, proprietária da Usina Aliança. Além dos casamentos de Fernando e Octávio, respectivamente com as irmãs Teresa e Lavínia, a amizade entre famílias levou à constituição da empresa Machado & Companhia em associação com o cunhado Jayme Villas-Bôas.

O TRABALHO DE SELECIONADOR. Satisfeito com a criação dos Nelore, Octávio Machado viu na chegada dos animais indianos das raças Gir e Guzerá, trazidos por Manoel de Oliveira Prata, a oportunidade de iniciar a criação de plantéis de animais de raças puras indianas. Os adquiriu e iniciou a criação de gado dessas duas outras raças.

Logo após esse acontecimento, Octávio adquiriu ao irmão Fernando os animais nelore, descendentes dos importados da Índia em 1906. A seleção de Nelore de Octávio Ariani Machado foi ampliada com o aumento do número de matrizes. Primeiramente, adquiriu novilhas junto ao criador baiano Dantas Bião, cujo gado descendia de animais comprados do criador fluminense Lemgruber. Em seguida, comprou animais diretamente com o próprio Lemgruber.

No seu trabalho de seleção, Octávio, pela falta de outros criatórios na região, teve que utilizar a consanguinidade e sempre se preocupou em aprimorar as características raciais e de produção de carne. Os resultados se viam nas exposições de gado. Os gados da marca Octávio Machado alcançaram fama nacional e conquistaram muitas premiações. O reconhecimento do trabalho de selecionador levou os animais de Octávio Machado a serem utilizados na formação dos mais importantes plantéis do país.

Figura 3. Octávio Ariani Machado, seu filho Otávio e Manoel de Oliveira Prata.

A partir de animais de pelagem avermelhada nascidos do seu plantel, Octávio Machado desenvolveu um grupo de Nelore vermelhos. Adquiriu animais importados da Índia em 1930, entre os quais o touro Calcutá e a vaca Índia, esta de pelagem vermelha. Conseguiu segregar, com a distinção que lhe era peculiar no trabalho de seleção, os animais com tal característica, formando um grupo com pelagem vermelha definida e com qualidades semelhantes às dos animais brancos.

Na primeira metade do século XX, o Indubrasil, raça zebuína brasileira formada a partir de Gir e Guzerá, principalmente, mas que reunia as demais raças de zebus presentes no Brasil, como a Nelore, preponderava. Muitos criadores cruzaram suas vacas puras para formar rebanho de Indubrasil, formada a partir de cruzamento de animais zebuínos.

Figura 4. Arary – Filho do casal de nelore importado por Manoel de Souza Machado.

Nesse cenário, o maior mérito de Octávio Ariani Machado foi o de ter sido sempre muito cuidadoso com a seleção dos reprodutores e lotes de vacas. Chegou a cruzar Gir com Nelore, mas verificou que os resultados não foram satisfatórios. Manteve puros os seus três  plantéis de zebuínos, desenvolvendo um trabalho criterioso e duradouro de identificação e seleção da variedade do Nelore de pelagem vermelha.

Numa fase posterior, em que se resgatou e se valorizou as raças puras indianas, Octávio era dos raros criadores brasileiros a dispor de gado puro para fornecer aos demais, tornando-se fonte de animais para a formação de diversos outros núcleos, como o Instituto de  Pecuária da Bahia. Observou-se uma disseminação dos gados da família Machado pelo Brasil, chegando aos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Após a morte de Octávio Machado, seu filho Octávio Vilas-Boas Machado deu continuidade ao seu trabalho.

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